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Briga de irmãos

Em abril deste ano voltei para os Estados Unidos, três anos após a turnê que rendeu os textos campeões de audiência deste redivivo blog. Não sei se foi obra divina, ou algum pacto que fiz com o Canhoto e não recordo. De certo que na empreitada recente pude testemunhar o conjunto Suicidal Tendencies em duas oportunidades. Não é bem assim, mas é como se fosse. Explico abaixo.

 Primeiro, em Santa Mônica, no Central. Lá, na Costa Oeste, a 14 quadras do píer, vi em ação Louichi Mayorga, baixista fundador do grupo e prefeito honorário de Venice, acompanhado de R.J. Herrera, o nosso Chicano Surf e titular das baquetas na era clássica do ST. Os dois encabeçando o Luicidal, projeto-resgate dos anos iniciais da mais perigosa banda angelena.

 Mais tarde, conferi outra apresentação em Nova Iorque, no Best Buy Theater. Na Costa Leste, próximo do inferno turístico da Times Square, apreciei o Suicidal Tendencies enquanto Suicidal Tendencies. Mr. Mike Muir e convidados, ou melhor, demais integrantes do grupo, em show da Slam City Tour, promoção do álbum lançado em 2013, batizado criativamente de “13”.

Diante deste cenário, decidi promover aqui a mais sórdida das sacanagens: botar pra brigar irmão contra irmão, criador contra criatura, ou criatura contra criador, Zico enfrentando o Flamengo, Sandy lutando com Júnior, Bud Spencer duelando com Terence Hill, Assis ante Washington…

Suicidal x Luicidal

Primeira categoria…

 LINEUP

Suicidal: Na bateria, o polvo Eric Moore, um excelente instrumentista para o Dream Theater, para performances em praças, mas firulento demais para o ST. No baixo, Tim “Rawbiz” Williams, também competente, igualmente exagerado. Numa guita, Dean Pleasants carrega o mérito da longevidade no conjunto. Já são mais de 15 anos substituindo Rocky George. Ao mesmo tempo, o simpático lead guitar tem parte da culpa pela infectiousgroovenização do Suicidal. Seguindo, na guita-base, o molecote Nico Santora, apenas esforçado. Finalmente, empunhando o mic, Papa Muir, o presidente, o ditador, o mais “energético” dos frontmans. Você que escolhe. O que não se discute é que, não fosse pelo irmão mais jovem de Jim “Red Dog” Muir, nada teria existido.

Nico Santora e Tim Williams no palco.

Nico Santora e Tim Williams no palco.

Luicidal: Dispõe de Louchi Mayorga, inventor do conjunto, camarada dos bancos de Santa Monica College de um tal Mike “Suicide”, com quem apavorava pelas ruas daquela Venice Beach ainda infestada de gangues. Ao lado, nada menos que Ralph Joseph Herrera, o popular R.J. Herrera, baterista de seis álbuns do ST, responsável por ditar todo um novo conceito de moda na virada dos anos 80, graças ao seu bem ajambrado mix chicano-surf-skate com curly muletts. Por sua vez, na guita, Ricky Reinaga, parça de Mayorga, segura bem a onda, encarnando os guitarristas solitários da banda de outrora, Jon Nelson, Grant Estes e Rocky George. Por fim, no vocal. Mando Ochoa, do Sick Sense, que não faz feio.

R.J. Herrera e Louichi Mayorga em ação.

R.J. Herrera e Louichi Mayorga em ação.

Veredito: Luicidal vence.

 SETLIST

Suicidal: Tem disponíveis toda a obra parida desde o alvorecer dos anos 80. E, normalmente, monta com precisão o repertório, baseado nos hits da primeira fase. No concerto em Manhattan, incluiu três canções do novíssimo “13”, que não deslancharam.

Luicidal: Louichi delimitou o repertório às músicas que ajudou a compor. Assim, a maioria das canções é do disco de estreia, incluindo os clássicos “Subliminal” e “Institutionalized”. Algumas do “Join the Army”, com “Possessed to Skate” entre elas. E poucas do “How Will…”, última contribuição do baixista com a banda, destaque para “Pledge Your Allegiance”.

Veredito: Suicidal vence.

PÚBLICO

Suicidal: Os fãs do ST misturados aos de D.R.I. e Sick of it All, as outras atrações da noite – além do Waking the Dead, a ainda novata banda do ex-ST Mike “The Riff Machine” Clark. Uma juventude sadia e alguns bangers da antiga.

A rapaziada em NY.

A rapaziada em NY.

Luicidal: No Central, em Santa Mônica, um desfile de personagens clássicos da cena californiana. A começar por Ric Clayton, o responsável pela estética cyco, autor do logo, dos flyers e boa parte dos desenhos estampados na capa do álbum de estreia. Além dele, se fez presente Keith Morris, vocalista de Black Flag e Circle Jerks, atualmente no OFF!, bem à vontade ao entoar os versos de “War Inside My Head”. Fechando a seção de “colunáveis”, Jeff Ho, o shaper que forjou a revolucionária equipe de skate Zephyr Team ao lado de Skipp Engblom e Craig Stecyk.

Keith Morris e Jeff Ho no público do Luicidal.

Keith Morris e Jeff Ho no público do Luicidal.

Veredito: Luicidal vence.

MERCHANDISING

Suicidal: Aonde quer que vá, o ST leva junto quase uma megastore de produtos relacionados. Camisetas, bonés, regatas e, claro, as indefectíveis bandanas. Tudo para você meter aquela panca de OG e impressionar a turma.

Luicidal: A trupe liderada por Big Louie conta solamente com uma transada camiseta preta na qual está estampada a figura clássica do baixista dedilhando o velho e bom baixo amarelo e preto, aquele que o mesmo já confessou ter a sensação de estar pilotando um navio ao tocar.

Veredito: Suicidal vence.

DESEMPENHO

Suicidal: No início da apresentação no Best Buy Theater o som estava um lixo completo, comprometendo a arrancada dos comandados de Muir. Uma série de discursos do vocalista – um amigo o comparou, com ironia e certa dose de razão, ao hoje falecido Chorão – também prejudicou o show. Apesar disso tudo, o carisma do frontman e o repertório terminaram garantindo a diversão.

Papa Muir naquela onda.

Papa Muir naquela onda.

Luicidal: O quarteto que compõe o Suicidal Revisited foi minucioso na execução das músicas. E apesar de veteranos do rock, não perderam o fôlego. Nem depois que o mestre de cerimônias Louichi Mayorga serviu-se, em pleno palco, do que eles chamam na Califórnia de “cigarrete of artist”. Nota 9,5 para a performance de R.J. Herrera, vigorosa mesmo depois as múltiplas fraturas sofridas pelo baterista há algum tempo atrás. Colaborou o fato de o Central ser pequeno e com ótimo som.

Mayorga no momento em que baixou uma neblina braba no palco.

Mayorga no momento em que baixou uma neblina braba no Central.

Veredito: Luicidal vence.

Placar final…

Suicidal 2×3 Luicidal

E aí, concorda?

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RHCP em Venice

Dica do Novato. Red Hot Chilli Peppers em Venice Beach. Boa pedida para sacar um pouco da área que pariu os Cycos. A casa do prefeito Louichi Mayorga fica a poucas quadras do boardwalk, cenário de toda sorte de malucos, na direção oposta do mar.

A música é fraquinha, bem longe do potencial da banda. E falando do RHCP, outra clássica banda californiana, pinta aquela pergunta: será que, em algum momento, por qualquer motivo, os liderados de Anthony Kiedis já se esbarraram com o exército de Mike Muir?

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Sai Bruner, entra Williams

Temos um novato no ST. Com o titular Stephen Bruner em turnê com a cantora Erykah Badu (relaxar faz bem), Tim Rawbiz Williams assumiu as quatro cordas em caráter temporário. Acho fundamental manter a negritude no contra-baixo, para preservar o suíngue.

O cara tá cheio de chinfra no twitter… @rawbiz!

* as fotos são do usário Tobias, do glorioso fórum do ST.

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Forte e rijo!

Depois de superar problemas de saúde, ao tudo indica, Ralph Joseph Herrera, nosso super-herói chicano das baquetas, voltou para a California! No instantâneo abaixo, ele retoma o comando da cozinha do Horny Toad, a banda do prefeito de Venice, Louie Mayorga.

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Adams e ST, mais uma vez…

Bem depois do prometido, aqui estou — sim, o blog ainda vive! E retorno satisfeito com a manutenção do ritmo de visitações, mesmo sem conteúdo novo. Qual o significado disso? Não sei.

Para retomar a rotina, um personagem tão citado quanto os Cycos por aqui: Jay Adams. Já cansei de repetir que temos alguns bons posts tratando da conexão. É só chegar na pesquisa.

Desta vez, a lenda do skate aparece ostentando uma tatuagem sinistra do Suicidal, nunca antes vista na história (pelo menos por mim). Mais uma prova do apreço dele pela banda. E, também, por desenhos toscos. Vocês estão ligados que Adams tem um LA na face, correto?

Essa do ST tem a maior pinta de ter sido marcada no período ocioso em que Adams ficou trancado, preso por uma bronca com narcóticos. Mas, beleza, vale assim mesmo…

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Baú dos Smiths

Depois de mergulharmos na séria Recuerdos de Mayorga, eis que mais um baú com pérolas dos Cycos se abre. Desta vez, trata-se de Dominy Smith, irmã do ex-batera do Suicidal, Amery Smith. Para o delírio da turma, ela fez a baita camaradagem de disponibilizar alguns registros dos primórdios do conjunto no Facebook.

As fotos nos lançam lá para o início dos anos 80, época em que o ST ainda aprumava o repertório e caçava uma chance para gravar o álbum que mudaria a vida de muita gente — a minha, por exemplo.

Jon Nelson dedilhava a guita, com sua vibe hendrixiana. Louie Mayorga era o titular do contra-baixo. Amery Smith empunhava as baquetas. E, claro, Mike Muquinho Muir, presidia o conjunto.

Artigos de luxo!

Antes das fotos, porém, deixo um registro. Durante um mês, o blog ficará sem atualizações, em virtude de uma viagem de trabalho. Segurem a onda que logo tudo volta ao normal. Valeu!

O roadie do ST Moony, Amery Smith de cabelo raspado e Kevin Guercio, vocalista do No Mercy, curtindo uma birthday party.

Festinha em Harrisburgh, na Pennsylvania. Mike Muir traja berma vermelha, enquanto Mayorga ostenta um calção Elite caqui.

Mike Muir versão bonequinho, Louie de azul, Amery de laranja e Jon Nelson sem camisa. 1983 - Ohio.

Mike Muir em Detroit, 1983, após passar a noite em um necrotério.

ST no Eletric Banana - Amery Smith é o primeiro, Mike Muir o segundo, Mayorga com um penteado invocado e Jon Nelson sem camisa.

 

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Clássico!


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Cycettes – 14

Contribuição do bróder Franco Andrade. Artigo de alta periculosidade.

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Suicidal Boyz

A foto abaixo é um dos melhores registros da fase áurea (na minha opinião) do Suicidal. Não há nenhum integrante da banda no documento, mas reúne boa parte da rapaziada que seguia os Cycos na época.

A foto foi tirada por Chuck Katz e flagra um pré-show da turnê “Welcome to Venice”, em 1985. No meio da turma, estão os integrantes da também clássica banda de Venice Beowulf, Mike Jensen, Dale Henderson, Paul Yamada e Mike Alvarado (que também foi roadie do ST).

Há ainda Sal Troy, integrante do No Mercy, grupo que juntou Mike Muir, Mike Clark e o ilustrador-chefe do ST Ric Clayton.

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Polêmica na tarde

Descobri a pérola no fórum do ST. E se eu não conhecesse bem os personagens, e o gosto dos norte-americanos pela tosqueira extrema, diria se tratar de um esquete do Saturday Night Live ou dos nossos Hermes e Renato e TV Pirata.

Basicamente, é um debate sobre obscenidade e indecência na música, detonado pela controvérsia em torno do grupo de rap de Miami 2 Live Crew, ali pelo início dos anos 90.

Tudo acontecendo no palco do The Phil Donahue Show — um daqueles programas transmitidos à tarde para o furor das tiazonas. Participam músicos, representantes da sociedade, desocupados etc.

E agora vem a melhor parte… entre os artistas, por assim dizer, estão Mike Muir e o líder dos Dead Kennedys Jello Biafra! Sim, acredite.

O que se vê a partir daí é sensacional, um momento épico da tevê mundial. Destaque para a plateia…  americanos rústicos! O cabeça do 2 Live Crew também esmerilha, defendendo o álbum As Nasty As They Wanna Be e o sucesso Me So Horny (saquem a tradução e o fantástico clipe).

Numa marra caprichada, Lights Camera Revolution Era, Muir participa pouco do embate. O único bom momento surge na parte 1, aos 7min51. Tempo em que ele confirma o banimento do Suicidal de Los Angeles e fala da lendária visita que recebeu da CIA, por conta dos versos de I Shot Reagan (tratamos do tema aqui no blog na entrevista de Lisa Fancher, chefona da Frontier, gravadora que lançou o disco de estreia dos Cycos).

Biafra é igualmente contido, talvez sufocado pela excitação geral. Entra para a história mais pelo visual vendendor de enciclopédia.

Abaixo está a parte 1, peça em que Muir dá o ar da graça. Os outros três videos você encontra entre os links relacionados no Youtube.

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