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Baú dos Smiths

Depois de mergulharmos na séria Recuerdos de Mayorga, eis que mais um baú com pérolas dos Cycos se abre. Desta vez, trata-se de Dominy Smith, irmã do ex-batera do Suicidal, Amery Smith. Para o delírio da turma, ela fez a baita camaradagem de disponibilizar alguns registros dos primórdios do conjunto no Facebook.

As fotos nos lançam lá para o início dos anos 80, época em que o ST ainda aprumava o repertório e caçava uma chance para gravar o álbum que mudaria a vida de muita gente — a minha, por exemplo.

Jon Nelson dedilhava a guita, com sua vibe hendrixiana. Louie Mayorga era o titular do contra-baixo. Amery Smith empunhava as baquetas. E, claro, Mike Muquinho Muir, presidia o conjunto.

Artigos de luxo!

Antes das fotos, porém, deixo um registro. Durante um mês, o blog ficará sem atualizações, em virtude de uma viagem de trabalho. Segurem a onda que logo tudo volta ao normal. Valeu!

O roadie do ST Moony, Amery Smith de cabelo raspado e Kevin Guercio, vocalista do No Mercy, curtindo uma birthday party.

Festinha em Harrisburgh, na Pennsylvania. Mike Muir traja berma vermelha, enquanto Mayorga ostenta um calção Elite caqui.

Mike Muir versão bonequinho, Louie de azul, Amery de laranja e Jon Nelson sem camisa. 1983 - Ohio.

Mike Muir em Detroit, 1983, após passar a noite em um necrotério.

ST no Eletric Banana - Amery Smith é o primeiro, Mike Muir o segundo, Mayorga com um penteado invocado e Jon Nelson sem camisa.

 

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ST Tour – Streets of Venice

Inicio a mini-tour ST pela casa que hospedava a Streets of Venice, skate shop gerenciada por Mike Muir. O endereço na Lincoln Boulevard foi nossa última parada no passeio guiado por Louichi Mayorga.

No imóvel de dois andares onde hoje está hospedada uma enigmática House of Tarot, o Suicidal gravou o clipe de How Will I Laugh Tomorrow, apresentando, entre outras coisas, um Muir revoltado arrancando posters fantásticos do grupo da parede e Bob Heathcote dedilhando o baixo no banheiro. Como destaque, o vocalista e Rocky George finalizando a música em cima do telhado, iluminados pelo pôr do sol da California.

Revendo a peça, pude constatar que o cenário mudou muito se comparado ao verificado lá no final da década de 90. Natural, em se tratando de uma região cada vez mais em expansão como Venice. A antiga morada do presidente-cyco também sofreu diversas alterações. A mais significativa é a adição dos toldos.

Pesquisei, mas não consegui desvendar qual a relação da Streets of Venice com a Dogtown Skates, marca do Z-Boy Jim Muir, irmão de Mike. Imagino que a proximidade tenha sido total, por motivos óbvios.

O que sei é que a loja renasceu, pelo menos em seu nome (veja o site). Hoje se encontra em Culver City, sob o comando de Daniel Clements, ex-vocalista do Excel, formação clássica de Venice. O novo gerente também participou da reedição do velho ST, ao lado de Mayorga, Grant Estes e Amery Smith, sob o nome de AgainST.

Mais detalhes da velha skate shop e residência oficial do Muir, abaixo publico o clipe de How Will I Laugh Tomorrow.

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Flashing Pictures – 28

Seguindo com as pérolas do baú do Louichi, temos o Suicidal em turnê. Os caras foram até o inóspito Alaska, a 5.500 quilômetros de distância da ensolorada Los Angeles. Uma pernada monstro no início dos anos 80.

Na foto histórica, um molecote Mike Muir, cheio de panca de surfista e, aparentemente, imune ao frio. Mayorga logo abaixo, com um invocado sobretudo. Jon Nelson é o próximo, de cavanha e moletom Possessed. Na sequência está Amery Smith, tirando onda de batera francês, equilibrando uma boina e fumando um cigarro. Por último, representando o chicano style, não faço a menor ideia de quem seja. Classic!

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Institucionalizado

Às vezes eu tento fazer as coisas, e nada funciona do jeito que eu imaginava. Eu fico frustrado. Eu tento muito, gasto meu tempo, mas não dá certo o que eu queria. Eu me concentro muito, mas não tem jeito. E tudo que eu faço, tudo que eu tento, nunca dá certo. Eu preciso de tempo para pensar.

Tem sempre alguém me dizendo… “Mike, a gente soube que você tem passado por vários problemas ultimamente, sabe. Talvez você devesse sair, falar sobre isso, você se sentiria bem melhor”.

Eu digo: “Não, está tudo beleza. Eu resolvo. Só me deixe sozinho. Eu me viro”.

E eles dizem: “Bem, se você quiser falar sobre isso, eu estarei aqui, sabe. E você, provavelmente, se sentirá bem melhor se falar sobre tudo isso. Então, por que você não fala sobre isso?”.

Eu falo: “Não! Eu não quero! Estou bem! Eu resolvo sozinho”.

Mas eles continuam me aborrecendo. Continuam me enchendo. E isso me deixa furioso!

Então você vai ser institucionalizado
Você virá com o seu cérebro lavado e com os olhos vermelhos

Você não terá nada a dizer
Eles irão lavar seu cérebro até que você aja do mesmo modo que eles

Eu não estou louco (Instituição!)
Você é que está louco (Instituição!)
Você está me deixando louco (Instituição!)

Eles me prendem numa instituição
Dizem que é a única solução
Para me dar a ajuda profissional necessária
Para me proteger do inimigo: eu mesmo

Eu estava no meu quarto, e estava olhando para a parede pensando em tudo, mas então, novamente, eu não estava pensando em nada. E então minha mãe chegou, e eu não sabia que ela estava lá. Ela chamou meu nome mas eu não a ouvi
Então ela começou a gritar: “Mike! Mike!”
E eu digo: “O quê? Qual o problema?”
Ela diz: “Qual o problema com você!?”
Eu digo: “Não há nada errado, mãe”
Ela diz: “Não me diga isso! Você está drogado!”
Eu digo: “Não, mãe. Eu não estou drogado. Eu estou bem. Só estou pensando. Por que você não me traz uma Pepsi?
Ela diz: “Não! Você está drogado!”
Eu digo: “Mãe! Eu estou bem. Só estou pensando”
Ela diz: “Não! Você não está pensando, você está drogado. Gente normal não age assim”
Eu digo: “Mãe, só me traz uma Pepsi, por favor. Tudo que eu quero é uma Pepsi”
E ela não queria me dar!
Tudo que eu queria era uma Pepsi!
Só uma Pepsi!
E ela não me dava!
Só uma Pepsi!

Eles te dão uma camisa branca com mangas longas
Enlaçadas nas suas costas, te tratam como ladrões
Te drogam porquê são preguiçosos
Dá muito trabalho ajudar um louco

Eu não estou louco (Instituição!)
Você é que está louco (Instituição!)
Você está me deixando louco (Instituição!)

Eles me prendem numa instituição
Dizem que é a única solução
Para me dar a ajuda profissional necessária
Para me proteger do inimigo: eu mesmo

Eu estava sentado no meu quarto e minha mãe e meu pai chegaram. Então eles puxam uma cadeira e se sentam.
Eles dizem: “Mike, precisamos falar com você”
E eu digo: “OK. Qual o problema?”
Eles dizem: “Eu e sua mãe temos ouvido falar que você tem passado por vários problemas. E você tem desaparecido sem razão alguma. E nós estamos com medo de que você vá machucar alguém. Estamos com medo de que você se machuque. Então nós decidimos que seria de seu interesse se colocássemos você em algum lugar onde você possa conseguir a ajuda que precisa”
E eu digo: “Espere! Do que vocês estão falando? “NÓS decidimos”? “MEU interesse”? Como vocês podem saber qual é o meu interesse? Como vocês podem dizer qual é o meu interesse? E o que vocês estão tentando dizer? EU estou louco? Quando eu fui para as SUAS escolas, eu fui para as SUAS igrejas, eu fui para os SEUS institutos de facilitação de aprendizado! Então como vocês podem dizer que eu estou louco?”

Eles dizem que vão consertar meu cérebro
Aliviar meu sofrimento e minha dor
Mas enquanto eles consertam minha cabeça
Mentalmente, eu estarei morto

Eu não estou louco (Instituição!)
Você é que está louco (Instituição!)
Você está me deixando louco (Instituição!)

Eles me prendem numa instituição
Dizem que é a única solução
Para me dar a ajuda profissional necessária
Para me proteger do inimigo: eu mesmo

Não importa. De qualquer forma, eu, com certeza serei atropelado por um carro…

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Conexão ST-Dogtown

Já tratamos no blog, algumas vezes (aqui, aqui, aqui e aqui), da proximidade com o Suicidal do lendário skatista Jay Adams, da rapaziada Dogtown.  Pois, recentemente, soube de nova conexão direta entre as duas partes.

Assistindo ao Notícias MTV no domingo passado, lá estava o Cazé entrevistando o Tony Alva, outro lendário skatista oriundo de Dogtown. Até que no bate-papo, Alva revelou ter uma banda com Amery Smith, ex-batera dos Cycos.

Alva nos tempos áureos de Dogtown.

Fui consultar o dono das baquetas no primeiro álbum do ST e fiquei sabendo um pouco mais sobre esse projeto:

“The band is called GFP! General Fucking Principles ! And is not only myself and Tony Alva on bass, but also Crazy Tom, the singer from DFL – (Dead Fucking Last) and Aime Caron on guitar. Its good, a lot of fun, punk rock, reggae, hardcore, metal, all that. We recorded sixteen songs this past weekend with legendary Producer Mario C. And we will mix later this summer”.

Encontrei um registro no Youtube, em qualidade bem ruim, mas que já dá pra sentir um gostinho…


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Lights, Camera… ST! – 9

A imagem do video abaixo é péssima, assim como o som. Porém, vale pelo registro histórico. O ST tocando Subliminal (uma das minhas top 5), em seus primeiros anos de vida.

Serve também como curiosidade. Pois, na apresentação, o Suicidal contou com dois guitarristas — bem antes da entrada de Mike Clark, em 1989, quando a banda tornou-se, definitivamente, um quinteto.

Não vou fazer a sacanagem de perguntar quem é o 5º elemento, pois mal dá para enxergá-lo. Mas fui pesquisar e descobri que trata-se de Rick Battson. Os demais integraram a formação que gravou o primeiro álbum: Muir, Estes, Mayorga e Smith.

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Flashing Pictures – 18

* with english version below.

Gosto muito dessa foto. É um dos poucos registros em que o ST aparece na praia. Algo que, para uma banda local de Venice Beach, e tão identificada com a sua origem, não deveria ser tão raro. Não sei quem foi o responsável pelo clique, mas são gigantescas as chances de ela ter sido tirada por Glen Friedman.

Poucas, mas sensacionais as fotos do ST em seu habitat natural. O que dizer da peça que ilustra a capa do primeiro álbum, reproduzida, dez anos depois, para o Still Cyco?

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Provavelmente ao lado do pier de Venice, sobre as pedras, estão Muir (largado), Smith (desajeitado), Nelson (desafiador) e Mayorga (low-profile) — detalhe para respingos de uma onda que estourou, no canto direito.

Formação de 1983 a 84 que cavou um lugar na cena para o Suicidal. Com um disco de estreia desacreditado debaixo do braço, contra o descrédito da mídia, costurando as desavenças com outras bandas e se esquivando do ódio e da violência das gangues.

Chama a atenção o bonézinho do Nelson. À época, sempre feito com as próprias mãos. Mais tarde, essa onda (da aba do boné virada pra cima, mostrando alguma inscrição) viraria símbolo do ST e febre entre os fãs nos truckers hats dos anos 80.

*************ENGLISH VERSION*************

I really like this pic. It’s one of not so many photos avaliable that contains ST on the beach. And the scenario shouldn’t be so rare, for we’re talking about a band formed and raised in Venice Beach, the place they are really related to. I’m not sure who shot the pic, but it was probably Glen Friedman.

Even is there aren’t so many ST photos in their natural habitat, they are still terrific, though. What shall we say about the one that’s in the cover of their first album, that was released 10 years later for Still Cyco?

This pic was probably shot next to the Venice pier, standing in the stones, you can see Muir, Nelson and Mayorga – zoom on the splash caused by a wave, on the right corner.

The 1983-84 line-up dug a spot in the scene for Suicidal. Carryin’ a discredit debut album, also against the discredit of the media, sewing disagreements with other bands and avoiding the hate and the violence brought by the gangs.

Nelson’s tiny cap is another thing to pay attention – back then, those werer always drawned by hand. Later, this ‘style’ would turn out to be the ST symbol and become a fever among the fans wearing trucker hats in the ‘80s.

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Um desejo para 2010

* with english version below

Uma turnê mundial celebrativa do Suicidal.

Na primeira parte do show, Mike Muir, Louichi Mayorga, Grant Estes e Amery Smith tocariam as 12 músicas do álbum de estreia — certamente, seriam 30 minutos inesquecíveis.

ST do primeiro álbum novamente junto: Mayorga, Estes, Smith e Muir.

No fundo do palco, um painel gigante pintado pelo Ric Clayton, responsável pelos desenhos de várias das camisas que ilustram a capa do disco de 83, além de flyers de shows.

No segundo ato, Muir permanece, agora acompanhado por Rocky George, Mike Clark, Robert Trujillo e Ralph Herrera. Formação clássica para executar os grandes hinos dos discos posteriores.

ST clássico: Trujillo, Clark, George, Muir e Herrera.

Para fechar, claro, Pleadge Your Allegiance com as duas versões do grupo juntas… ST! ST! ST!

****************ENGLISH VERSION****************

My desire for the new year.

A celebration ST world tour.

On the first parte of the show, Mike Muir, Louichi Mayorga, Grant estes and Amery Smith would play the 12 songs of their debut album – it would be 30 minutes to remember.

Back of the stage, a giant panel painted by Ric Clayton, who is the artist behind the design on several tshirts that ilustrate the cover of the 83 album, beside flyers of old concerts.

By the 2nd act, Muir stays on the stage, now with Rocky George, Mike Clark, Robert Trujillo and Ralph Herrera – the classic lineup that would play the great anthems from the other records. For the closing up, of course, Pleadge Your Allegiance with the both Cyco versions together.

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Entrevista – Bob Heathcote

* with english version below

Bob Heathcote integrou o Suicidal por pouco menos de um ano, de 1988 a 89. Gravou somente um álbum (How Will I Laugh Tomorrow…) e participou de uma turnê (Europa e EUA). Quando a banda se preparava para entrar novamente em estúdio, foi “convidado a se retirar”.

A partir daí, aos poucos se afastou. Parou em São Francisco, formou uma família de cinco filhos e passou a curtir a fotografia. Tamanho foi o sumiço do baixista que chegou-se a questionar se ele ainda estava vivo.

Vinte anos depois, Heathcote reaparece e abre a caixa de recordações. Para mostrar que, se o tempo foi curto, a passagem pelos Cycos foi pra lá de intensa.

Quantos anos você tem e onde mora?
Tenho 45 anos e vivo em San Francisco.

Como você entrou para o Suicidal?
Amery Smith e eu frequentamos a escola juntos em Westchester, California. Lembro uma das primeiras vezes que toquei com o Amery: depois do colégio, peguei o ônibus com o meu baixo e um amplificador pequeno, empurrado por meu skateboard, até a casa de Valor (pai de Amery), em Playa Del Rey. Na época, ele estava tocando a bateria da irmã dele. Apenas nós dois ensaiamos por anos, com e sem Rick Battson e outros guitarristas.

Amery Smith e Bob Heathcote ensaiando na casa de Valor.

Depois Amery entrou para o ST, fez o primeiro disco e eles foram para a estrada. Mais tarde, viajei um pouco com ele e a banda como engenheiro de som. Profissionalmente, eu vinha sendo engenheiro de som em shows, aparentemente para sempre, para algumas bandas próximas a Los Angeles, mais do que tocar baixo. Meu primeiro show real como engenheiro foi no Olympic Auditorium, onde o ST foi a atração principal com os Red Hot Chili Peppers e muitas outras. Aquele show abriu meus olhos e me introduziu realmente à cena punk.

Quanto a mim, eu gostava de tocar com Amery e Rick Battson, mas isso nunca foi a nenhum lugar profissionalmente. Na verdade, nunca tentei fazer nada exceto praticar em uma garagem velha. A gente parecia sempre à procura de um vocalista para nos dar a direção.

Mais tarde, embora eu não me lembre como nos conhecemos, eu comecei a tocar com o Rocky George em uma banda cover, tocando músicas do Scorpions, Judas Priest e Motorhead. Rocky me inspirou porque ele não tocava apenas rock e metal. Nós ouvíamos muito jazz, fusion e Frank Zappa. Eu toquei muito com o Rocky ao lado dos Sterling Roberts na bateria.

Um dia eu ouvi que o ST estava procurando um novo guitarrista para o seu segundo álbum e falei para o Rocky que ele deveria fazer uma audição. Alguns dias depois, Rocky estava na banda.

Logo depois, Amery Smith e Todd Moyer estavam com um projeto chamado Uncle Slam e eu trabalhei com eles por, talvez, seis meses, fazendo pré-produção para um álbum. Mike Muir ouviu a fita e nos fez um contrato. Fiquei muito feliz de, finalmente, ter a chance de gravar em um estúdio de verdade.

Heathcote em foto promocional para o Uncle Slam.

Mas então, apenas uns dias depois Rocky me chamou e perguntou se eu estava interessado em tocar com o ST, pois o Muir queria cortar Louichi Mayorga. Eles iriam iniciar a gravação dois dias depois. O estúdio estava agendado, e eu tinha que decidir imediatamente. Eu falei para o Rocky que eu tinha interesse em saber mais e ele disse que iria conversar com o Muir.

Na época, eu estava tocando baixo muito na noite, mas tentava também dar suporte à minha família com um emprego “normal” de dia. Estava casado, com uma criança (que está casada agora), então eu precisava dos detalhes do Muir e ter a certeza que ele tinha condições de pagar o suficiente para a minha família se manter. Eu estava em uma encruzilhada, nunca tinha excursionado, nunca havia gravado, e poderia recusar o emprego dos meus sonhos se ele não rendesse dinheiro suficiente. Não poderia deixar minha família sozinha enquanto eu estivesse na estrada. Então, eu tinha que falar com o Muir.

Eu fui vê-lo onde ele morava, na skate shop Streets of Venice, na Lincoln, e me sentei com Muir no quarto de cima, onde foi gravado o video de How Will I Laugh (clique para assistir o clipe). Nós falamos talvez por três ou quatro horas. Ele me disse que poderia me pagar (apenas) o suficiente, mas me pareceu em dúvida se realmente queria tirar o Louichi da banda. Muir continuou a me explicar porque Louichi deveria sair, o que eu realmente não me importava. Eu só queria ouvir ele dizer: “Você é o novo baixista do ST”. Finalmente, ele disse.

Registro do encarte de How Will I Laugh…

O que realmente foi estranho, e algo que eu nunca vou esquecer, é encontrar Louichi esperando no andar de baixo, quando eu saí da sala. Alguém deve ter chamado ele e dito que eu estava conversando privadamente com o Muir. Louichi me perguntou o que rolou, e eu disse: “Bem… eu estou dentro e você está fora”. Eu fui o primeiro a dar a notícia para ele. Ainda lamento ter dito a ele daquela maneira. Louichi sempre foi muito legal comigo, mas eu não queria mentir. Apenas não sabia outra coisa a dizer.

O ST sempre foi associado às gangues. Em algum momento rolou uma relação direta?
Eu nunca fui um brigão e sempre odiei violência. Do meu conhecimento,  nunca vi um membro de gangue com a banda. Nunca. No estúdio de gravação, nos bastidores do show, em lugar nenhum. Talvez eu não estava prestando atenção. É claro que enquanto eu estava na banda, de março de 1988 até fevereiro de 1989, nós nunca tocamos no sul da Califórnia, onde eles tinham sido proibidos.

No entanto, logo após nós termos retornado de uma turnê pelos Estados Unidos, eu fui até a Streets of Venice, onde o Muir morava, e o lugar tinha sido todo detonado. Coisas quebradas por tudo. Quando eu perguntei o que tinha acontecido, alguém me disse que o Muir tinha dito em uma entrevista para a televisão que “a Suicidal Gang é mais um clube de bicicleta do que uma gangue”. Alguém esperou fora da casa ele voltar e o atacou. Ainda me pergunto se essa história é verdadeira.

Qual foi o melhor momento que você viveu com o grupo?
Quando Mike disse que eu estava na banda, e falou o horário que eu deveria encontrá-lo no estúdio, no dia seguinte, eu fiquei muito feliz, especialmente porque minha esposa me apoiou mesmo se isso significasse dificuldades para nós. ST e eu tocamos alguns grandes shows nos EUA e na Europa. E outros realmente ruins, também, onde não tínhamos fãs nenhum porque alguém vacilou na promoção.

Primeiro à esquerda, excursionando com o ST.

Os melhores na Europa foram, provavelmente, os shows em Paris e Milão, o último, acho, no clube Rolling Stone. Eu estava doente como um cão, mas me lembro que os fãs eram ótimos, então trabalhei duro por eles. O Royal Academy, em Londres, foi um excelente show: palco grande e muitos fãs. Holanda e Bélgica também foram ótimos. Mike Clark era o meu companheiro de quarto, durante quase todo o ano, em todos os hotéis. Ele e eu nos demos muito bem, fizemos várias jams e falamos muito sobre projetos futuros. Lamento não ter mantido o contato com ele depois de eu ter sido cortado.

E o pior?
Um ponto baixo, claro, foi quando o manager “Andrew” me ligou para dizer que os meus serviços não eram mais necessários. Especialmente, porque estávamos próximos de começar a gravar um novo disco, e eu queria compartilhar minha nova “bass voice” (um tipo de “canto” grave), como Louichi havia feito e Robert Trujillo faria mais tarde.

Outra lembrança ruim: eu me senti realmente mal por ter colocado o técnico de bateria em uma enrascada, quando nós desembarcamos no aeroporto de Heathrow (Londres), que terminou com ele sendo deportado de volta pára os Estados Unidos e perdendo toda a turnê européia. Mais tarde, soube que ele estava tentanto entrar no país como turista, sem uma permissão de trabalho, e eu falei seu nome na alfândega. Assim eles começaram uma investigação. Se alguém tivesse me dito antes isso nunca teria acontecido. Desculpe, Toi!

Primeiro à esquerda, em turnê, provavelmente na Itália.

O pior show foi, provavelmente, em Belfast, onde os fãs cuspiram na gente para mostrar aprovação! Houve também, claro, uma ameaça de bomba, e o hotel era como uma cena de filme de guerra, com bunkers e obstáculos na calçada para impedir alguém de dirigir até o lobby com um carro bomba. Todos os shows na Alemanha foram ruins porque o promotor se mandou e ninguém sabia que nós estávamos lá. Isso foi doloroso. E nós agendamos várias datas na Alemanha. A cerveja era boa, pelo menos.

Qual sua música favorita?
Minhas músicas favoritas do disco que gravei são If I Don’t Wake Up e The Feelings Back. Mas eu gostava de todas. Não tinha nenhuma que eu fiz que não gostasse de tocar.

War Inside My Head também era muita diversão. Claro, Institutionalized e todas as músicas do primeiro disco eram ótimas porque os fãs tinham as maiores reações e emoções.

Por que você saiu?
Muir e eu não concordamos em várias coisas durante as gravações e enquanto estávamos na estrada. Minhas influências como baixista eram o Geddy Lee (Rush) e Chris Squire (Yes), e eu sempre toquei em power-trio, com muito espaço para o meu baixo ser quase um instrumento principal. Mas eu nunca consegui fazer ele soar bem na mixagem, então eles diminuiram o volume.

Capa do disco gravado por Heathcote com a banda.

Olhando para trás, não consigo culpar ninguém por mixar meu instrumento tão baixo, porque teria diminuído o impacto do excelente trabalho do Mike Clark de guitarra rítmica. O produtor (Mark Dodson) trabalhou com Judas Priest, que parece quase não ter um baixista, então era assim que ele queria que soasse o ST. Isso foi difícil de engolir na época.

Depois, na estrada, eu fiz vários riffs pesados e improvisações, e então, em minha opinião, foi muito ruim nós não termos feito uma gravação no fim da turnê. Em todo caso, era também para eu ter uma divisão igual do dinheiro no próximo álbum, então Muir também tinha essa razão para me cortar. Se você trabalha na música, você conhece a história.

Atualmente, você tem relação com o Muir ou algum outro integrante?
Nunca ninguém tentou entrar em contato comigo nem eu tentei. Eu estava muito chateado. Oh, Andrew tentou que eu devolvesse alguns equipamentos de baixo, que foram me dados pela Cavin e Ibanez. Fiquei puto!

Amery estava muito chateado por eu ter decidido trabalhar com o ST, mesmo que eu e Muir tivéssemos concordado que iria tocar nos álbums do ST e do Uncle Slam e talbez até excursionar juntos com as duas bandas.

Uns dois anos depois de eu ter saído, vi Rocky em um jogo do Kings de hockey, em Inglewood. Eu apenas disse “como você tem passado?”, e isso foi tudo. Meus filhos frequentavam a mesma escola dos filhos do Mike Clark, fiquei sabendo depois. Minha esposa disse que o viu uma vez.

O que você faz atualmente?
Desde que o ST acabou para mim, no início de 1989, eu venho tentando manter uma família de sete filhos. Meu mais velho se graduou agora e se casou, minha mais nova tem apenas quatro anos, então eu tenho estado muito ocupado nos últimos 20 anos. E tenho pelo menos mais 14 antes de me aposentar!

Acompanhado pelo filho Jon, em foto recente.

Estou ajudando meu genro a produzir música, minha filha adolescente está estudando percussão, então estou trabalhando com eles, mas nada profissionalmente. Porque uma banda muitas vezes me manteria algumas noites fora, na estrada, então eu canalizei minha paixão artística na fotografia, em que eu consigo fazer sozinho e quando posso. Eu fotografo geralmente automobilismo, sou fotógrafo da corrida de Laguna Seca, em Monterey, na Califórnia.

Obrigado por encontrar minha foto antiga, jantando com meus velhos amigos, Mike Clark e Albert. Esses dois fizeram tudo isso ser muito divertido e me protegeram várias e várias vezes contra as forças dentro da banda. Ler as entrevistas de Louichi, Amery, Rick e Mike, realmente me inspirou a falar sobre os velhos tempos.

***************ENGLISH VERSION***************

From 1988 to 1989, less than a year, Bob Heathcote was a member of Suicidal. He recorded only one album (How will I laugh tomorrow…) and played in a tour around Europe an the US. When the band was getting ready to record another album, he was “asked to leave” it.

Then, he moved away to San Francisco, formed a big family with five kids  and started to get into photography. He was missing for so long that some people even questioned if he was still alive.

Tweenty years later, Heathcote reappears and opens his box of memories. Showing us that, if it was a short period of time, his passage among the Cycos was really intense.

How old are you and where do you leave?
I am now 45 and living in San Francisco area

How did you enter Suicidal?
Amery Smith and I went to school together in Westchester, CA. I remember one of the first times I played with Amery: after school I took the public bus with my bass and a small amplifier, pushed along on my skateboard, to Valor’s place in Playa Del Rey. At the time he was playing his sisters drum kit. Just the two of us played for years, on and off with Rick Battson and other guitarists.

After Amery joined ST and made the first record they went on the road. Later I travelled a bit with him and the band myself as sound engineer. Professionally I had been doing live sound engineering seemingly forever for many bands around Los Angeles, more than playing bass. My first real engineering gig was the big show at the Olympic Auditorium where ST was the headliner over Red Hot Chili Peppers and many others. That show was an eye opener for me and my introduction to the punk scene really.

As for my own playing, I liked playing with Amery and Rick Battson but it never went anywhere professionally. Really, we never tried to do anything except practice in that old garage. We always seemed to be looking for a singer to come along to give us direction.

Later, though I cannot remember how we met, I started playing a lot with Rocky George in a cover band playing songs by the Scorpions, Judas Priest and Motorhead. Rocky inspired me because he didn’t play just rock\metal. We listened to a lot of jazz and fusion and Frank Zappa. I played a lot with Rocky along with Sterling Roberts on drums.

One day I heard ST were looking for a new guitar player for their second record and I told Rocky he should audition. A few days later Rocky was in the band.

Soon after Amery Smith and Todd Moyer were doing this project called Uncle Slam and I worked with them for maybe six months doing pre-production for a record. Mike Muir heard our tape and got us a record deal. I was very happy to finally get to have a chance record for myself in a real studio.

But then just a couple days later Rocky called me and asked if I was interested in playing with ST because Muir wanted to cut Louichi. They were due to start recording two days later. Studio time was booked, and I had to make a decision immediately. I told Rocky I was interested in learning more and he said I had to talk to Muir.

At the time I was playing bass a lot at night but I was also supporting my family with a regular “day” job. I was married with one child (who is now married herself) so I had to get the details from Muir and be sure he was going to be able to pay enough for my family. Here I was at a crossroads where I had never toured, never recorded, and I might have to refuse my dream job if there was not enough money. I could not leave my family homeless while I went on the road. So I had to talk to Muir.

I went down to see Muir where he lived, the Streets of Venice skate shop on Lincoln, and sat with him in that upstairs room you see in the How Will I Laugh video. We talked for maybe three or four hours. He said he could pay me (just) enough but he seemed torn by whether he really wanted to cut Louichi Mayorga from the band. He kept explaining to me why Louichi had to go, which I really didn’t care about! I just wanted to hear him say, “You are the new bass player for ST”. Finally, he did.

What was really strange and something I will never forget is finding Louichi waiting downstairs when I came out of the room. Someone must have called him and told him I was talking privately with Muir. Louichi asked me what happened upstairs, and I told him, “Well… I’m in, and you are out”. He heard it from me first. I still regret telling him that way. He was always a really nice to me but I didn’t want to lie to him. I just did not know what else to say.

ST has always been associated to gangs, but the was any moment that happened a really direct connection between them?
I was never a fighter and hate violence. To my knowledge, I never saw a gang member with the band, ever. Not in the recording studio, not backstage at any show, or anywhere. Maybe I was not paying attention! Of course while I was in the band, from about March 1988 to February 1989 we never played in Southern California as they had already been banned.

However, soon after we returned home after the United States tour, I went to the Streets of Venice where Muir lived and found the whole place had been torn apart, just things broken everywhere. Worse, Muir had been beat up pretty good and could hardly function. When I asked what happened I was told by someone else that because Muir had said in an MTV television interview “the Suicidal Gang is more of a bicycle club than a gang”, somebody waited outside for him to return and attacked him. I still wonder if the story was true.

What was the best moment you had with the band?
When Mike said I was in the band and told me what time to meet him at the studio the next day, I was pretty happy, especially as my wife supported me even if it mean some hardship for us. ST and I played some great shows in the US and Europe, and some really bad ones, too, where there were no fans at all because someone screwed up the advertising/promotion.

The best in Europe were probably the shows in Paris and Milan, the latter I think at the Rolling Stone club. I was sick as a dog but I remember the fans were great so I worked hard for them. The Royal Academy in London was a really great show, too: huge stage and lots of fans. Holland and Belgium were also excellent. Mike Clark was my roommate for nearly an entire year at every hotel. He and I got along great and would jam a lot and talk about future projects. It was the first real professional tour for both of us and we had a lot of fun together. I regret not staying in touch with him after I was cut.

And the worst?
A low point of course was when the weasel manager “Andrew” called me on the phone to say my services were no longer required, especially because we were about to start working on a new record and I wanted to share my new “bass voice” Louichi had done an Robert Trujillo would later do.

Another bad memory: I felt really bad for getting the drum tech in trouble when we landed at the Heathrow airport which ended with him getting deported back to the US and missing the whole European tour. Later I learned he was trying to enter the country as a tourist without a work permit and me calling his out name at the customs counter started an investigation. If someone one have told me ahead of time it never would have happened. Sorry Toi!

The worst show was probably Belfast where the fans spit on us to show their approval! There was of course also a bomb scare, and the hotel was like a scene out of a war movie with bunkers and obstacles in the driveway to prevent someone from driving up to the lobby with a car bomb. All the shows in Germany were horrible because the promoter pulled out and no one knew we were even there. That was painful. And we were booked for a lot of dates in Germany. The beer was good, though.

What’s your ST favorite song?
My favorite songs to from my record were “If I don’t wake up” and “the feelings back”. But I liked all of them. There were not I did not like to play.

“War inside my head”, was always fun, too. Of course “Institutionalized” and all the songs from the first record were great because the fans had the biggest reaction and emotion was at its highest.

Why did you leave ST?
Muir and I did not agree on a lot of things during the recording and while on the road. My bass guitar influences were Geddy Lee (Rush) and Chris Squire (Yes) and I had always played in a three-piece band with lots of head room for my bass to be almost a lead instrument but we could not get it to sound right in the mix so they turned it way down.

Looking back I cannot blame anyone for mixing my bass so low because it would have lessened the impact of Mike Clark’s great rhythm guitar work. The producer had worked with Judas Priest who sound like they do not even have a bass player so that is how he wanted me to sound with ST, too. It was tough to swallow at the time. Later on the road I would do a lot of heavy riffing and improvisation and so in my opinion it was too bad we did not make a recording at the end of the tour! In any event, I was supposed to get a full equal share of the money on the next record so Muir also had this reason for cutting me. If you work in music, you know the story.

These days, do you still have contact with Muir and the other members?
Nobody has ever tried to contact me nor have I ever tried to contact them. I was pretty pissed off! Oh, Andrew tried to get me to return some of the bass equipment, which was given to me by Carvin and Ibanez. What nerve!

Amery was very upset that I decided to work with ST even though Muir and I agreed I would play on both ST and Uncle Slam records and perhaps even tour together with both bands.

About two years after I had left ST I saw Rocky at a Kings hockey game in Inglewood. I just said “how you have you been?”, but that was about all that was said. My kids went to the same school as Mike Clark’s kid(s), I later heard. My wife said he saw him once.

What are you doing these days?
Since ST ended for me in early 1989 I have been raising a family of seven. Though my eldest just graduated college and got married, my youngest is only 4 years old, so I have been busy the last 20 years and have at least 14 more to go before retirement!

I am helping my son-in-law produce some music and my teenage daughter is studying percussion so I work with her but nothing professional recently. Because a band would often keep me out nights or on the road I channel my artistic passion into photography, which I can do alone on my own schedule. I shoot mostly motorsports and I am a track photographer at Laguna Seca Raceway, in Monterey, California.

Thanks for finding the old photo of me eating with my old friends Mike Clark and Albert. Those two really made it fun for me and had my back against forces inside and outside the band, many, many times. Reading the interviews from Louichi, Amery, Rick and Mike really inspired me to talk about all the old times.

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Entrevista – Lisa Fancher

* with english version below.

Prosseguindo com a série de entrevistas do blog, trago dessa vez uma participação especial. Primeiro, pela relevância da pessoa na carreira do Suicidal. Segundo, por se tratar de uma mulher.

Afinal, é raríssimo vermos um registro sobre elas no mundo do rock que não seja na pele das mal-faladas groupies. E em relação ao ST, nunca vi algo por aí que tratasse com mais profundidade das meninas e da banda.

Lisa Fancher é uma californiana de enorme importância para o punkrock local. No início dos anos 80, fundou a Frontier Records e pouco tempo depois já entrou para a história com o lançamento de Group Sex, disco de estreia do Circle Jerks.

Lisa Fancher, em foto recente, com os dois maiores sucessos da Frontier Records: os primeiros álbums de Suicidal Tendencies e Circle Jerks.

E não ficou por aí. Em 1983, acabou convencida pelo parceiro Glen  E. Friedman a contratar uma banda até então mais famosa por algumas polêmicas e a violência de seus seguidores.

Desde então, não foram poucas as histórias para contar. Como, por exemplo,  sobre a edição pela Frontier do primeiro álbum do Suicidal Tendencies ter se tornado a mais vendida de um grupo de punk rock nos anos 80.

Quando você ouviu falar do ST? O que te impressionou para levá-los para a Frontier?
Não sei dizer exatamente qual foi o dia ou o ano, mas aconteceu lá por 1982. Glen E. Friedman (que fotografou o Adolescents para o LP da Frontier) tinha se tornado um grande amigo meu e também ajudava o Suicidal ou meio que atuava como “empresário” deles. Ele sempre me trazia demos diferentes, mas eu não achava que as músicas deles eram “fortes”. Pra ser bem honesta, a banda e seus fãs tinham uma reputação violenta o que me deixava um tanto nervosa. Então o Glen me mostrou um cassete de Institutionalized e eu soube naquele momento que a música seria um clássico. A fita não tinha nem um álbum inteiro de músicas, talvez umas cinco? Já se vão mais de 25 anos então é difícil de lembrar!

Como eles foram contratados?
Se o Glen E. Friedman não era o empresário oficial da banda, ele passou a ser quando eu disse que queria lançar o álbum de estreia deles. O contrato previa apenas o lançamento do primeiro álbum, não tenho certeza se isso aconteceu em razão de uma insistência deles ou se eu estava somente tentando contratá-los sem muito aborrecimento. As negociações do contrato não foram tão difíceis quanto eu me recordo…

Na entrevista que eu fiz com o Amery Smith, ele disse que o primeiro disco foi gravado em um único dia (“no computers, Pro Tools or Digital Performer or Cubase or Logic or Reason, there were no edits, all played live”). O que você lembra dessa sessão?
O disco não foi gravado em um dia. Eu digo que foram cinco dias, incluindo a mixagem. A maioria dos primeiros discos punks que gravei foi feita em dois ou três dias, mas eu sabia que precisava dedicar mais tempo para esse disco. Eu lembro que nós fizemos várias overdubs de guitarra com Grant Estes e isso valeu a pena todo o tempo extra e o dinheiro gasto!

Apesar da pouca idade, o ST já tinha uma fama muito controversa. Isso foi bom ou ruim para a Frontier?
Em última análise, isso trabalhou a meu favor porque eles eram muito conhecidos em Los Angeles e seus fãs ficaram famosos por serem violentos e destruírem as casas noturnas. E certos membros da banda também ficaram conhecidos por uma ou outra coisa ruim. Não vou ficar repetindo esses boatos, mas eu sei tudo sobre eles. TSOL também tinha uma má reputação e isso apenas fez com que os garotos os adorassem ainda mais. No fim das contas, os fãs do ST queimaram o filme da banda a ponto de eles terem sido banidos por anos de tocar em Los Angeles, depois que os fãs basicamente destruíram os assentos de um lugar chamado Perkins Palace. Acho que isso aconteceu por volta de 1983 ou 1984. Não era que a banda pedia para que os fãs brigassem ou destruíssem os lugares, mas eles também nem conseguiam controlá-los.

Desenho sobre a gravadora retirado do site da Frontier.

Outro rumor envolve a banda com as gangues. Isso preocupou você?
Eu não acho que se possa chamar os fãs de verdadeiros membros de gangues, eles ficaram conhecidos como Cycos e pertenciam ao seu próprio grupo. Glen E. Friedman fez um ótimo trabalho fotografando as camisetas do Suicidal feitas pelos próprios fãs, como você vê na capa do disco. Foi aquilo mesmo que aconteceu, a gente não pediu para ninguém fazer camisetas como aquelas!

Outra polêmica fala sobre a o ST ter sido “convencido” pelo FBI a mudar o nome da música I Shot Reagan, que ficou I Shot the Devil. Isso aconteceu?
Não exatamente. Eles chamavam a música de I Shot Reagan (“Eu atirei em Reagan”, ex-presidente dos Estados Unidos) mas é um absurdo alguém sequer fazer uma brincadeira sobre matar o presidente dos EUA, então eu que pedi que eles não colocassem esse nome na música na capa do disco. Eu não sei como, mas o FBI ficou sabendo daquelas letras, talvez a mãe ou o pai de alguém ficou puto com o disco e nos dedurou! O FBI realmente me telefonou e queria discutir sobre o assunto. Eu disse que era só a letra de uma música e prometi para eles que a banda não tinha nenhuma intenção de prosseguir com aquilo. Até onde eu sei, eles deixaram o assunto de lado, mas devem ter aberto um arquivo da banda, para o caso de eles continuarem falando sobre matar o presidente. Alguém devia utilizar a lei que trata sobre “liberdade de informação” para descobrir se existe um dossiê do FBI sobre isso!

A arte do disco é clássica. Você participou?
Eu confiei no gosto de Glen. A única coisa que eu fiz foi pagar pelo trabalho da arte e as entreguei para a Diane Zincavage (diretora de arte da Frontier) finalizar tudo. E você tem razão – realmente é uma capa clássica!

A capa clássica: fotos de Glen E. Friedman e arte de Diane Zincavage.

Naquela época, você sentia que estava nascendo um disco histórico, o álbum punk mais vendido dos anos 80?
Sim, eu sabia que tinha um sucesso em minhas mãos. Mas infelizmente não foi assim desde o início. O disco foi um completo e total fracasso comparado aos outros discos punks (lançados pela Frontier) como do Circle Jerks e os Adolescents. Então a (rádio) KROQ começou a tocar Institutionalized o tempo todo e as vendas começaram a melhorar. Um ano depois, Glen insistiu em fazer um videoclipe de Institutionalized (dirigido por Bill Fishman) para a MTV e eles começaram a passar feito loucos! Então isso superou completamente as vendas dos outros LPs de punk.

Qual a sua música preferida?
Sinceramente, deve ser Memories of Tomorrow. O riff the guitarra nessa música ainda me deixa abismada.

Como foi o fim da relação entre o ST e a Frontier?
Terminou antes mesmo de começar. Eu tinha a banda apenas para fazer o primeiro álbum e depois eles seguiram seu caminho. Eu nunca estive próxima do Mike Muir, ele me odiava desde o início. Eu gostava dele, apesar disso!

Como foi relançar uma edição especial do álbum em vinil 25 anos depois?
Eu realmente não ouvia o disco há muito tempo, então fiquei muito orgulhosa de ter relançado um álbum que tanta gente amou durante todos esses anos. Até os filhos deles compram uma cópia agora!

A reedição em vinil do disco de estreia do ST lançada pela Frontier

Qual é a situação atual da Frontier?
Você quer dizer se nós ainda estamos por aí? Sim! Eu não lanço tantos discos novos, apenas reedições de discos antigos de punk como Middle Class e os Weirdos. Nós estamos aguentando, mas 2009 está sendo um ano terrível. Não vejo a hora de ele acabar e a economia mundial começar a se recuperar.

BÔNUS

Mais entrevistas com Lisa Fancher: aqui e aqui.

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ENGLISH VERSION

Gettin’ on with the series of interviews from the blog, it’s time to show you a special participation, for two reasons: first, I’m talking about a relevant person in Suicidal’s career, and second, this person is a woman.

After all, it’s very hard to find anything wrote ou filmed about women in rock, except maybe for the pieces talking about the so-called groupies. When it comes to ST, I’ve never seen any deep abroad relating women and the band.

Lisa Fancher is a californian that has an enormous part to local punk scene. In the early ’80s, she formed Frontier Records, and not a long time after that she’s entered to history by releasing ‘Group Sex‘, the debut album of Circle Jerks.

Some time later, in 1983, she was conviced by her friend Glen E. Friedman to hire a band that was notorious for some controversy and their violent followers.

After that, it wasn’t just a few stories to tell. Such as, for instance, the fact that the debut album os Suicidal Tendencies, released by Frontier, would later become the best sold punk record in the 80’s.

When did you first hear about ST? What impress you the most that made you take them to Frontier?
I can’t exactly pinpoint the day or year but it was some time in 1982. Glen E. Friedman (who shot the Adolescents portrait shots on the Frontier LP) had become a good friend of mine and was also either just helping out Suicidal or actually managing them. He kept bringing me different demo tapes but I didn’t think the songs were very strong. To be quite honest, the band and their fans had a reputation for being violent which kind of made me nervous. Then Glen brought me a cassette that had Institutionalized on it and I knew the second I heard that song that it was a classic. The tape didn’t have a whole album’s worth of songs on it, maybe five? That’s over 25 years ago so it’s hard to remember!

How did they get the contract?
If Glen E. Friedman wasn’t officially their manager then, he became their manager when I said I wanted to release their debut album. I just signed them for the one record, not sure if that was at their insistence or if I was just trying to sign them without any hassle. The contract negotiations weren’t difficult as I recall.

Amery Smith said that their first record was recorded in one single day in the interview I made with him (“no computers, Pro Tools or Digital Performer or Cubase or Logic or Reason, there were no edits, all played live”). What do you recall from that session?
The LP was not made in a day. I’m going to say five days including mixing. Most of my early punk records were made in  two to three days but I knew I had to take a little more time for this one. I remember we did a lot of guitar overdubs with Grant Estes and it was well worth the extra time and money!

Even at their early age, ST had already a controversial reputation. Was this positive or negative to Frontier?
Ultimately it worked in my favor, they were VERY notorious in Los Angeles and their fans were legendary for being violent and wrecking night clubs. And certain members of the band also were known for this bad thing or that bad thing. I won’t repeat these rumors but I know all about them. TSOL also had a bad reputation and it just made the kids love them more. As it turns out ST’s own fans did hurt the band in terms of playing in Los Angeles, they were banned for years after their fans basically destroyed the seats in a venue called Perkins Palace. I think this was late ’83 or maybe ’84. It’s not like the band asked their fans to get in fights or destroy property but they couldn’t control it either.

There’s another rumor relating the band and the LA gangs, was this a concern for you at the time?
I don’t think you could call their fans real gang members, they were known as Cycos and were sort of their own gang. Glen E Friedman did a great job of photographing their homemade Suicidal shirts as you see on the LP cover. Those are the real thing, we didn’t ask anyone to make a shirt like that!

And there’s yet another rumor that says ST was ‘convinced’ by FBI to change the title of “I Shot Reagan”, that remained “I shot the Devil”. Did that happen?
Not exactly… They called the song “I Shot Reagan” (former president of the US) but as it’s a crime to even joke about killing the president in the USA, I asked them not to call it that on the LP jacket. I don’t know how but the FBI found out about the lyrics, probably someone’s mom or dad was pissed off about the record and turned us in! The FBI actually did telephone me about the matter and wanted to discuss it. I said they were merely lyrics to a song and promised them that the band didn’t have any intention of carrying it out. They dropped the matter as far as I know but they probably opened a file on the band just in case they kept saying to kill the president. Someone should use the “freedom of information” act to find out if there is an FBI dossier!

The LP artwork has become a classic cover, were you involved in that?
I trust Glen’s taste implicitly. I had nothing to do with the artwork other than paying for it and giving all the photos and logo to Diane Zincavage (art director of Frontier) to put together. And you’re right— it is a classic cover!

Back then, did you feel it was being made an historical album, that later turned out to be the most sold punk record in the ‘80’s?
Yes, I knew I had a hit on my hands. Alas it didn’t start out that way… The record was a complete and total failure compared to my other punk titles like the Circle Jerks and Adolescents. Then KROQ started playing “Institutionalized” all the time and it started to sell very well. A year later Glen insisted on making a video of “Institutionalized” (directed by Bill Fishman) for MTV and then they started playing it like crazy! Then it completely eclipsed the sales of the other punk LPs.

What’s your ST favorite song?
Honestly, probably Memories of Tomorrow. The guitar riff on that song still kicks my ass.

How the relationship between ST and Frontier finished?
It was over before it started. I just had them for the one record and then they went on their way. Never got along with Mike Muir, he hated me from the start. I liked him though!

What was the feeling on releasing a special vinyl edition of the álbum 25 years later?
I hadn’t really listened to it for a long time so it made me very proud that I had released an album that so many people have loved over the years. Even their kids buy a copy now!

What’s happening to Frontier these days?
Do you mean are we still around? Yes! I don’t really put out many new records, just reissues of vintage punk like Middle Class and the Weirdos. We’re hanging in there but 2009 has been a horrible year. Can’t wait til it’s over and the economy worldwide starts to recover from this.

BONUS

More interviews with Lisa Fancher – 1 e 2.

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